Bosch reporta faturamento recorde em 2018; câmbio gera queda na América do Sul

O executivo-chefe financeiro (CFO) Stefan Asenkerschbaumer deixa para traz o grande número da Bosch em 2017 (na tela) e apresenta novo recorde: faturamento recorde de € 78,5 bilhões

Por PEDRO KUTNEY, AB
  • 09/05/2019 - 20:00
  • | Atualizado há 2 anos, 8 meses
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    Texto atualizado 10/05/2019 às 15h32

    O crescimento não foi expressivo, apenas 2,2% de 2017 para 2018, mas o suficiente para a Bosch registrar mais um faturamento anual recorde no ano passado, somando € 78,5 bilhões, que resultou em lucro antes de impostos e juros (Ebit) de € 5,5 bilhões, em leve alta de 0,6%, com margem sobre as receitas que aumentou de 6,8% para 7%. Os resultados financeiros da empresa foram divulgados na reunião anual com a imprensa na quinta-feira, 9.

    Os investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) continuam em níveis recordes para atender às novas demandas tecnológicas da indústria, atingiram € 7,3 bilhões, mantendo a relação em torno de 9% do faturamento, ficando acima inclusive dos dispêndios em capital fixo (bens, imóveis, fábricas), que chegaram a € 4,9 bilhões, ou 6,3% das vendas. A Bosch informa ter terminado 2018 com quase 410 mil empregados no mundo todo, com a criação de 8 mil vagas no ano, mais da metade nas atividades de P&D, que já concentram 68,7 mil pessoas globalmente – a maioria, 30,5 mil, na Alemanha.

    Das quatro divisões do grupo alemão no mundo, a América do Sul foi a única que contabilizou queda de receitas em euros: total de € 1,4 bilhão, com participação de apenas 1,8% das vendas globais e 6,2% abaixo do apurado em 2017, apresentando assim o menor e o pior resultado, explicado quase que integralmente pela grande desvalorização cambial na Argentina e no Brasil. Sem considerar o câmbio desfavorável, o faturamento da região cresceu 11,6% quando a conta é feita em moedas locais.

    Em comparação, a Bosch faturou € 41,4 bilhões na Europa (+3,3%), € 12,3 bilhões na América do Norte (+2,7%) e € 23,4 bilhões na Ásia-Pacífico (+0,7%). A divisão de Soluções de Mobilidade, que inclui todas as operações de autopeças e sistemas automotivos, continua sendo a maior do grupo, com receita de € 47,6 bilhões (em crescimento de 3,5%), seguida por Bens de Consumo (€ 12,3 bilhões em queda de 6,2%), Tecnologia Industrial (€ 7,4 bilhões +8,8%) e Energia e Tecnologia de Edificações (€ 5,6 bilhões +2,4%).

    “2018 foi um ano de sucesso para o Grupo Bosch. Apesar dos desafios econômicos, em 2019 vamos continuar a investir grandes somas no desenvolvimento de novas tecnologias e áreas de negócios para assegurar a viabilidade futura da companhia”, afirmou o CFO Stefan Asenkerschbaumer.



    Para este ano a diretoria da Bosch espera por variadas dificuldades econômicas no horizonte. Disputas comerciais internacionais, alto nível de endividamento dos países europeus e queda da produção automotiva então entre as principais barreiras para a economia global. Ainda assim, a companhia projeta vendas levemente superiores às registradas em 2018. Nos primeiros três meses do ano a Bosch informa que o faturamento ficou estável em relação ao ano passado.

    GANHOS TECNOLÓGICOS EM CRESCIMENTO



    Com investimentos intensivos em P&D, a Bosch tem transformado em novas fontes de receitas as principais disrupções tecnológicas em curso na indústria automotiva. Exemplo disso é o aumento do nível de automação veicular: atualmente a empresa tem 5 mil engenheiros dedicados ao desenvolvimento de sistemas de direção autônoma, quase o dobro do número de dois anos atrás, e até 2022 a empresa planeja investir € 4 bilhões em mobilidade automatizada e sustentável. Mas essas áreas de negócios já rendem faturamento anual de € 2 bilhões e a expectativa é de crescimento de 15% este ano. As vendas radares para veículos devem crescer 20% e de câmeras veiculares 30%.

    Outra zona de crescimento do grupo é a eletromobilidade. Em 2025 a companhia projeta faturar € 5 bilhões com a venda de componentes para powertrain elétrico, cerca de 10 vezes mais do que o resultado de 2018. A Bosch estima que seus sistemas já estão presentes em 1 milhão de carros elétricos ao redor do mundo e até 2022 este número deve subir para 14 milhões de veículos. Com a conquista de contratos de fornecimento, o grupo está envolvido em 50 projetos de plataformas elétricas, 30 deles iniciados só no ano passado.

    “Na crescente competição por criação de valor no domínio de tecnologia de powertrain, vemos boas oportunidades à frente. Nosso conhecimento de sistemas, nosso amplo portfólio de produtos e economias de escala na manufatura fazem de nós uma escolha natural para os fabricantes de veículos e provedores de mobilidade no mundo todo”, afirma Volkmar Denner, presidente do conselho de administração da Bosch.



    Ele também prevê bom potencial econômico para as células de combustível, que geram eletricidade a partir de hidrogênio e ar. Recentemente a Bosch firmou uma aliança de desenvolvimento nessa área com a fabricante de células sueca Powercell, com projeto para oferecer a solução de eletrificação veicular por valores dois terços mais baratos dos que os vistos hoje – o que inviabilizou a tecnologia até agora. “Juntos com a Powercell, queremos lançar e vender as primeiras pilhas [de hidrogênio] até 2022 no máximo”, disse Denner.

    Em paralelo, a Bosch também espera continuar a ganhar muito dinheiro com sistemas e componentes para os veículos tradicionais. A empresa projeta que em 2030 perto de 75% de todos os carros e comerciais leves do mundo vão continuar sendo acelerados por motores a combustão. Tendo esse horizonte em vista, pretende continuar a investir somas consideráveis no desenvolvimento de powertrain mais eficientes, incluindo o uso de inteligências artificial para controlar de forma preditiva o tratamento da exaustão de gases. Apenas em 2018, a venda de sistemas de tratamento e sensores de exaustão gerou vendas de € 2,3 bilhões, e a Bosch estima que esse valor deverá atingir € 3 bilhões em 2025.