Skaf manobra para tentar o 5° mandato seguido na Fiesp

Presidente articula mudança no estatuto da entidade para garantir reeleição

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São Paulo

Perto de finalizar seu quarto mandato como presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf já começou a se movimentar na tentativa de emplacar mais uma reeleição.

Para que ele possa se candidatar novamente, é necessário, mais uma vez, mudar o estatuto da federação.

Paulo Skaf, presidente da Fiesp, em sessão solene de posse dos novos dirigentes do TRF3 na Sala São Paulo, em março de 2020
Paulo Skaf, presidente da Fiesp, em sessão solene de posse dos novos dirigentes do TRF3 na Sala São Paulo, em março de 2020 - Mathilde Missioneiro/Folhapress

Skaf fez duas alterações desde que assumiu a Fiesp, em 2004. Seu mandato atual termina em 2021.

Na semana passada, ele recebeu aliados em ao menos três almoços na sede da entidade, em São Paulo. Cada encontro reuniu cerca de 15 convidados.

Nessas reuniões, segundo relatos ouvidos pela Folha, Skaf explicou que seu mandato estava chegando ao fim e que tinha pensado em sucessores, mas que as pessoas procuradas por ele não aceitaram disputar as eleições.

Quem acompanhou os encontros conta que o primeiro a se manifestar disse que Skaf era o único candidato e sugeriu a nova mudança do estatuto. Estavam presentes presidentes de sindicatos ligados à indústria paulista, todos com direito de voto na Fiesp.

Integrantes da federação contam que esse costuma ser o modus operandi de Skaf quando as eleições se aproximam. Um industrial disse que ele faz almoços e passa listas para que assinem seus nomes em apoio a mudanças no estatuto. Segundo esse industrial, o procedimento deixa algumas pessoas constrangidas.

No almoço de sexta (15) não houve lista, só apoio verbal.

Segundo pessoas ligadas à entidade, na última vez em que pediu mudança no estatuto da Fiesp, Skaf teria garantido que não viriam outras. Teria informado que pretendia se dedicar à política e que só precisava da visibilidade do cargo de janeiro a maio de 2018, quando se licenciou para disputar as eleições para o governo do estado de São Paulo.

Skaf não esconde as ambições políticas e foi candidato ao governo do estado de São Paulo nas três últimas eleições. Em 2010 e em 2014, quando Geraldo Alckmin (PSDB) foi eleito e reeleito, ele terminou o pleito em segundo lugar. Em 2018, em terceiro.

Quando perdeu as eleições, voltou ao comando da Fiesp.

Diferentemente das outras vezes em que mudou o estatuto, Skaf também não está em seu melhor momento dentro da federação e ainda tem que lidar com uma investigação feita pela Operação Lava Jato.

No final de abril, ele foi denunciado pelo Ministério Público de São Paulo e pela Procuradoria Regional Eleitoral no estado de São Paulo, junto com o empresário Marcelo Odebrecht e o publicitário Duda Mendonça, pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e de caixa dois em montante superior a R$ 5 milhões durante as eleições que Skaf disputou ao governo do estado em 2014.

Ele também tem um número cada vez maior de opositores dentro da federação; alguns, aliás, fizeram parte da chapa de Skaf à reeleição em 2017.

No início do ano, reportagem da Folha mostrou o descontentamento de alguns dos principais industriais de São Paulo com o que chamavam de militarização da Fiesp —a indicação de militares para vários cargos na entidade.

A estratégia foi interpretada como uma forma de Skaf sinalizar alinhamento com o presidente Jair Bolsonaro.

Essa aproximação também é alvo de críticas, que cresceram após a saída do ex-juiz Sergio Moro do comando do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Industriais nos grupos de WhatsApp, com cerca de 400 integrantes, cobraram uma posição de Skaf após as denúncias feitas por Moro.

Na quinta (14), a queixa era sobre a videoconferência com Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes. Um dos industriais relatou à reportagem que só tinham direito à palavra integrantes do Conselho Superior Diálogo pelo Brasil,formado por cerca de 40 empresários, poucos ligados à indústria.

Um deles chegou a questionar se o empresário Abilio Diniz, que falou durante o encontro, precisava da Fiesp para se reunir com Bolsonaro. Segundo ele, essa era a oportunidade de levar a agenda da indústria para o presidente, o que não teria sido feito.

Pessoas ligadas à Fiesp dizem ainda que a aproximação com Bolsonaro seria um novo caminho, percebido por Skaf, para, enfim, vencer a eleição ao governo de São Paulo. Mas a queda na popularidade do presidente após a pandemia do novo coronavírus já coloca a candidatura —e até mesmo uma eventual vitória— no terreno da incerteza.

A principal queixa continua sendo o fato de que, enquanto a indústria tem seus piores resultados, aprofundando a crise que já vinha de antes da pandemia, o presidente da federação que representa o setor estaria deixando de lado a agenda empresarial para se dedicar às suas ambições políticas.

Procurado, Skaf disse liderar 120 sindicatos patronais, 43 diretorias regionais em todo o estado e 40 conselhos, departamentos e comitês temáticos.

Disse ainda que no Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) e na Fiesp há 250 diretores voluntários eleitos.

"A liderança e a idoneidade das entidades e de seu presidente são reconhecidas nacionalmente e fora do país", disse.

"Vivemos numa democracia, e é natural que em entidades do porte da Fiesp e do Ciesp meia dúzia façam críticas escondidos pelo anonimato. Dentro da Fiesp e do Ciesp, todos sabem exatamente quem são."

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