Volkswagen espera resultado melhor na Argentina com vocação exportadora

Fábrica da VW em Córdoba: investimento de US$ 150 milhões para produzir a caixa de câmbio manual de seis marchas MQ 281, que será 100% exportada

Por PEDRO KUTNEY, AB
  • 24/01/2020 - 18:42
  • | Atualizado há 2 anos, 8 meses
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    A profunda crise econômica instalada nos últimos dois anos na Argentina custa a dar sinais de trégua, mas o argentino Pablo Di Si, presidente da Volkswagen América Latina, avalia que a operação da empresa no país deve ter resultados melhores em 2020. Em 2020 o país vizinho foi a principal causa do prejuízo na região que ele dirige.

    A empresa deve finalizar este ano plano de investimentos de US$ 1 bilhão em suas duas fábricas argentinas para fazer novos produtos e aumentar a produção, confiando na vocação exportadora tanto da planta de veículos em Pacheco, que recebe aportes de US$ 850 milhões, como na unidade de transmissões em Córdoba, onde foram investidos US$ 150 milhões.

    “Já exportamos muito da Argentina e deveremos exportar ainda mais com os novos produtos que vamos fazer lá. Também somos líderes de mercado no país há 16 anos e podemos aproveitar uma possível retomada das vendas este ano”, diz Pablo Di Si.



    Apesar das projeções apontarem para nova contração, para o executivo o mercado argentino “já chegou ao fundo do poço” e a tendência agora seria de recuperação, mesmo que moderada. Em 2019 as vendas de veículos na Argentina caíram 45% sobre 2018, para apenas 372,4 mil unidades, e a indústria no país já acumula seis anos consecutivos de quedas que reduziram pela metade o mercado, impactando diretamente as exportações de automóveis brasileiros que têm nos argentinos seus maiores clientes estrangeiros. Somente no ano passado a Volkswagen calcula que deixou de exportar 50 mil carros do Brasil por causa da retração argentina.

    Na mão contrária, as exportações argentinas ao Brasil, igualmente o principal cliente externo do setor, perderam força nos últimos anos por causa da retração do mercado brasileiro e mudanças de padrão de consumo, com maior interesse por SUVs e redução de compras dos principais modelos fabricados na Argentina. Dos 12 fabricantes instalados no país, quatro (incluindo a Volkswagen) hoje exportam apenas picapes médias aos brasileiros, de alto valor agregado mas baixos volumes. Com isso, a produção nas fábricas argentinas também vêm caindo desde 2015, terminando 2019 com contração de 32,5% e produção de 314,8 mil unidades.

    Di Si avalia que “é positivo” o Plano Estratégico da Indústria Automotiva 2030, que vem sendo negociado há um ano na Argentina entre montadoras, autopeças, trabalhadores e governo para a adoção de estímulos ao setor.

    “O programa tem uma boa influência do Rota 2030 adotado no Brasil. Pode ajudar a cadeia a se recuperar, principalmente pequenos fornecedores que poderão ter mais acesso ao crédito, algo que praticamente não existe hoje no país”, pontua. “Independentemente se as metas do plano forem atingidas ou não (foi colocado como objetivo a produção de 1,8 milhão de veículos por ano até 2030), o resultado é positivo, porque vai incentivar a indústria”, completa.

    INVESTIMENTOS PARA ELEVAR PRODUÇÃO E EXPORTAÇÃO



    Boa parte da produção da Volkswagen na Argentina já é direcionada à exportação – Di Si destaca que 70% das picapes Amarok produzidas na fábrica de Pacheco são exportadas e 95% das caixas de câmbio manufaturadas em Córdoba são enviadas para fábricas do grupo em outros países.

    A partir deste ano a empresa espera aumentar ainda mais as exportações – e por consequência a produção – de suas fábricas argentinas com os investimentos que foram feitos em novos produtos. Como parte do investimento de US$ 850 milhões já estão em fase final as obras de uma nova linha em Pacheco para fabricação do novo SUV médio-compacto da marca, ainda sem nome definido e conhecido como projeto Tarek, a ser lançado até o fim de 2020. “Deveremos exportar mais de 70% desse modelo produzido lá e boa parte virá para o Brasil”, acentua Di Si.

    Também está nos planos a produção, na mesma linha argentina e sobre a mesma plataforma MQB, de uma picape média-compacta conhecida até agora como Tarok – nome do protótipo apresentado ao público brasileiro no Salão de São Paulo em 2018. O lançamento de mais este Volkswagen argentino é esperado para 2021.

    Já em Córdoba, onde são produzidas caixas de câmbio manuais, foi finalizado o investimento de US$ 150 milhões para a produção da nova transmissão MQ 281, de seis marchas, que será 100% exportada para ser instalada em carros do Grupo VW feitos em outros países, inclusive na Europa. “Vencemos uma concorrência global da companhia”, explica Di Si.