CNH Industrial vai se dividir em duas para dobrar o lucro

Hubertus Mühlhäuser, CEO da CNH Industrial (no centro), tocou o sino de abertura do pregão da Bolsa de Nova York: até 2021 a empresa será dividida em duas

Por PEDRO KUTNEY, AB | De Nova York (EUA)
  • 03/09/2019 - 19:00
  • | Atualizado há 2 anos, 8 meses
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    Depois de estudar a natureza de cada uma de suas quatro unidades de negócios industriais, a CNH Industrial decidiu que o melhor caminho para crescer mais rápido – e lucrar em dobro – é se dividir em duas empresas, com balanços e ações distintas.

    O plano estratégico da companhia para os próximos cinco anos, apresentado na terça-feira, 3, na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE), nos Estados Unidos, prevê a criação de duas novas corporações, uma até o momento chamada “on-highway”, que ficará com as operações de veículos comerciais da Iveco e os motores produzidos pela FPT, enquanto a organizaçãooff-highway fica com a produção e vendas das máquinas agrícolas e de construção das marcas Case e New Holland – que originaram o nome CNH da holding e provavelmente será mantido para um dos lados do negócio, que será completamente dividido no começo de 2021, após aprovação de acionistas e das entidades de fiscalização do mercado.

    Esta é a segunda vez que a companhia passa por uma separação. Na origem, todas as operações faziam parte do Grupo Fiat, como fruto de diversas aquisições que a empresa italiana fez ao longo de décadas. Até que, em 2011, o lado das marcas de veículos leves e autopeças ficou sob o guarda-chuva da Fiat SPA, em 2014 transformada na Fiat Chrysler Automobiles (FCA), e os negócios relacionados com a produção e venda de bens de capital ficaram com a Fiat Industrial, criada em 2011 e renomeada como CNH Industrial em 2013.

    No plano estratégico “Transform 2 Win” apresentado pela CNH em seu Capital Markets Day realizado na NYSE, o CEO Hubertus Mühlhäuser explicou que a decisão de dividir a empresa em duas foi tomada após o exame aprofundado das operações, que têm desafios tecnológicos e regulatórios diferentes. O objetivo primário da divisão é criar duas corporações mais focadas em suas atividades fim, para dessa forma alinhar investimentos e torna-los mais eficientes, com maior retorno sobre o capital aplicado.

    “ Temos baixo aproveitamento conjunto para operações de manufatura, distribuição e engenharia. Vemos que os negócios de veículos comerciais e motores têm sinergias potenciais e o mesmo acontece na manufatura de máquinas agrícolas e de construção, que têm tecnologias e regulamentações similares. Concluímos então que o melhor caminho era criar duas empresas”, disse Hubertus Mühlhäuser.



    EXPECTATIVAS DE CRESCIMENTO E INVESTIMENTO



    Mühlhäuser, que assumiu o comando há apenas um ano, irá orquestrar a transformação mais profunda já feita na holding de bens de capital que, embora tenha sido formalmente separada da FCA, permanece sob o controle acionário da família Agnelli. O executivo afirma que nos próximos cinco anos o portfólio de ambas as duas novas empresas será transformado com o objetivo de aumentar as margens e aproveitar oportunidades de crescimento orgânico e inorgânico.

    Com isso, em termos práticos a CNH Industrial espera que as iniciativas do plano estratégico quinquenal devem mais que dobrar o EBIT (lucro antes de despesas financeiras e impostos) de US$ 1,6 bilhão registrado em 2018 para US$ 3,4 bilhões em 2024, fazendo a margem sobre o faturamento saltar dos atuais 5,7% para 10% no período. Com isso, a estimativa é elevar o ganho por ação dos atuais US$ 0,86 para US$ 2.

    Com a divisão, o retorno sobre capital investido é projetado em respeitáveis 20% – e os investimentos previstos no período 2020-2024 em todas as operações somam US$ 13 bilhões, sendo 58% direcionados ao desenvolvimento de produtos, 22% em manutenção de plantas e 20% em novas tendências tecnológicas, como direção autônoma, propulsões alternativas, digitalização e oferta de serviços.

    Segundo calcula a CNH, as duas companhias nascidas da divisão serão similares em tamanho e sinergias. Baseado no faturamento apurado em 2018, as vendas da empresa on-highway (caminhões, ônibus e comerciais leves da Iveco e motores FPT) somam atualmente US$13,1 bilhões, com EBIT de US$ 500 milhões. O lado off-highway (máquinas agrícolas e de construção Case e New Holland, além de veículos especiais da Magirus) fatura US$ 15,6 bilhões e teve EBIT de US$ 1 bilhão no ano passado. Espera-se que as vendas de todas as operações cresçam 5% ao ano nos próximos anos, saltando dos US$ 27 bilhões esperados para 2019 para US$ 35 bilhões em 2024, ao fim do plano estratégico quinquenal.

    Ao menos por enquanto, os executivos da CNH se negaram a informar como será a repartição regional do investimento global, nem o que esperam exatamente de cada mercado nos próximos anos. Nada específico foi divulgado para a América do Sul, onde a empresa tem quatro fábricas no Brasil e uma na Argentina.

    “O Brasil é um mercado importante para nós, temos participação relevante nos mercados de máquinas agrícolas e de construção”, limitou-se a dizer o CEO Mühlhäuser. Sobre a Argentina, avaliou que o país “sempre está em crise” e que deverá sair dela independentemente do vencedor das próximas eleições presidenciais de outubro.

    TRANSFORMAÇÃO



    Diversas ações já começaram a ser tomadas e continuarão a ser até 2022 para dividir a companhia em duas organizações mais eficientes e lucrativas. Segundo Mühlhäuser, entre as iniciativas para atingir os objetivos financeiros descritos está o aumento de utilização da capacidade instalada das fábricas da média atual de 66% para 85%, com enxugamento de 1,2 milhão de metros quadrados de áreas fabris em todo o mundo –ele evitou dar qualquer pista sobre quais fábricas serão fechadas ou reduzidas.

    Está previsto que 85% dos novos produtos das diversas marcas da CNH serão digitalizados e conectados. A venda de serviços, muitos deles relacionados com a digitalização dos produtos da CNH, deve crescer dos atuais 16% do faturamento para 20%.

    Entre as ambições de cortes de custos, o plano prevê economia com compras de suprimentos de 1% ao ano até 2024. Também está entre os objetivos aumentar a produtividade das linhas de produção em 4% ao ano, com adoção do sistema World Class Manufacturing em todas as operações industriais. A linha de produtos de todas as marcas será drasticamente simplificada. “Mas não vamos abandonar nenhum dos segmentos que já estamos, o objetivo é simplificar e reduzir a complexidade, para ganhar produtividade e escala”, explica Mühlhäuser.

    A ideia central é transformar as duas empresa que nascerão da CNH em corporações mais atrativas aos investidores. “Vemos que o mercado prefere empresas mais focadas em seus negócios, com portfólio mais simples e menos complexo”, avalia o CEO. Segundo ele, as mesmas pessoas que trabalham hoje na direção da CNH Industrial deverão levar todas as transformações adiante.

    Segundo o plano estratégico divulgado, a nova empresa off-highway terá 75% do faturamento centrado nas vendas de máquinas agrícolas, as de construção vão representar 19% das receitas e os restantes 6 virão da divisão de veículos especiais. As marcas do agronegócio Case IH, New Holland Agriculture e Steyr terão linhas de produtos e redes de distribuição fortalecidas com a aceleração de investimento em automação e digitalização. No mercado de construção, Case Construction Equipment, New Holland Construction e a marca Astra de caminhões para mineração, o foco é aumentar a rentabilidade com simplificação da linha de produtos e aumento de participação em segmentos específicos. Veículos da divisão de defesa e caminhões Magirus para bombeiros continuarão a desenvolver soluções para sua base de clientes específicos.

    Para o lado on-highway da empresa, 69% do faturamento deverá vir das marcas Iveco, Iveco Bus e Heuliez Bus, os 31% restantes serão faturados pelo braço de motores e transmissões reunidos no guarda-chuva da FPT Industrial. Está previsto o desenvolvimento de novos produtos para as marcas Iveco, com inclusão de novas tecnologias de direção autônoma e propulsão alternativa. A FPT seguirá fornecendo powertrain para maquinário agrícola e de construção.