São Paulo, 29 de março de 2024

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11/10/2020

Máquinas-ferramenta: já se vê luz no fim do túnel?

(11/10/2020) – O setor de máquinas-ferramenta costuma ser o primeiro a sentir os efeitos de uma crise e um dos últimos a sair dela. E não seria diferente agora, com a crise desencadeada pela pandemia de Covid-19 – com o agravante de o setor ainda não ter efetivamente concluído a saída da crise anterior, aquela iniciada na época do impeachment.

Os índices de retração do setor, confirmados pela maioria das empresas participantes desta reportagem (todas elas fabricantes de máquinas, mas sem produção local), ainda são bastante significativos, de até 50%. Os entrevistados, no entanto, não demonstram pessimismo com o cenário atual. Muitos inclusive já conseguem ver sinais de luz no fim do túnel.

“Nosso setor foi duramente atingido pela pandemia”, afirma Duarte Alves, diretor comercial da Okuma Latino Americana. “O momento ainda pede cautela, mas pode-se dizer que está começando a clarear”, diz. “Projetos que haviam sido postergados já começam a voltar à mesa de negociação; projetos novos surgindo e, enfim, negócios sendo concretizados”, explica.

Duarte elenca vários fatos que sustentam sua avaliação: “Temos o agronegócio puxando máquinas agrícolas e caminhões. A construção civil e a infraestrutura puxando a produção de máquinas da linha amarela. O câmbio favorecendo a exportação e o desenvolvimento de fornecedores locais, que vem se somar ao temor da dependência de fornecimentos externos (lição apreendida com a pandemia), que demandam novas visões estratégicas de negócios e produção local”.

Ricardo Bortolucci, diretor para a América do Sul da Toyoda, vê como um dos principais sinais positivos o fato de que muitas indústrias que antes importavam produtos manufaturados ou partes e componentes, devido à desvalorização cambial, estão hoje buscando alternativas para a fabricação local, o que abrirá portas para o setor de máquinas-ferramenta.

O diretor afirma que a Toyoda tem sido procurada por clientes que demonstram a intenção de aumentar a capacidade produtiva e também por empresas que estão em processo de desenvolvimento de novos produtos.

Para Eduardo Watanabe, diretor da DMG MORI do Brasil, a pandemia afetou de forma severa o ambiente de negócios do setor, que ainda segue neboloso. Em especial, devido à flutuação do câmbio nos altos patamares atuais, que afetam diretamente a motivação do comprador para a realização de novos investimentos.

No entanto, observa que esta situação também está criando novas oportunidades. “A própria valorização do dólar, que para alguns tem sido motivo para congelar investimentos, tem sido a motivação de novos projetos, principalmente em indústrias exportadoras e/ou aquelas que querem reduzir os itens importados em sua cadeia de produção”, comenta. “Porém, isto ainda está em nível de planejamento e, na prática, não se transformaram em investimentos”.

Para João Carlos Visetti, CEO da Trumpf Brasil, “a economia mundial, como um todo, foi afetada pela pandemia e é difícil apontar quais segmentos sofreram mais”. Em sua opinião, o mais importante neste momento é destacar que “no nosso segmento, em particular, vemos que o mercado brasileiro está se recuperando, mês a mês, desde julho”.

O fato de contar com um portfólio variado de máquinas de corte laser 2D e 3D, dobradeiras, puncionadeiras, máquinas de corte de tubo, soluções em sistemas e softwares para a digitalização e conectividade, segundo Visetti, possibilitou à Trumpf passar pela crise com impacto menor que outras empresas.

“Para nós, a luz no fim do túnel já começa a aparecer. Estamos num bom caminho, temos bastante projetos no pipeline e o cenário promete”, diz. Entretanto, lembra que existe hoje um desabastecimento de matérias-primas e de produtos acabados: falta de sucata e ferro-gusa para a fundição; de cimento e cal para a construção civil; de componentes para a indústria eletrônica. “Nunca imaginei que faltaria aço no Brasil!”, frisa. “No entanto, tudo indica que o pior já passou”.

“O setor de máquinas-ferramenta é muito sensível a crises”, destaca Rodrigo Manzano, gerente da Divisão de Máquinas-Ferramenta da Liebherr Brasil. Segundo ele, isto se explica por ser uma área muito dependente de novos investimentos – que exigem um ambiente de negócios com um mínimo de clareza, que dê segurança às indústrias para investir em máquinas.

Manzano lembra que o Brasil, quando da chegada da pandemia, já vinha de um longo período de queda no volume de investimentos, pelo menos, desde 2015. Porém, “já é possível ver uma luz no fim do túnel, quando se olha para outros mercados, como é o caso da construção, da linha branca, das máquinas agrícolas e de construção que estão em alta e com filas de espera, do mercado de caminhões que começa a retomar”.

RETOMADA – Na visão de Watanabe, não é possível ainda prever quando o mercado de máquinas-ferramentas irá realmente retomar, já que existem alguns sinais apontando em sentidos contrários. Por um lado, se verifica aumento das solicitações de consultas, por outro, a demanda por manutenção, assistência técnica e peças de reposição ainda não repete os números da pré-pandemia, o que significa que muitas empresas ainda estão com níveis altos de ociosidade.

Diante desse quadro, acredita que a retomada só deve ocorrer no segundo semestre de 2021. Em sua opinião, alguma melhora no sentido de agilizar o ritmo de recuperação poderia vir de ações do governo, como a redução da carga tributária na aquisição de novas máquinas, o que impulsionaria a renovação do parque fabril, que em grande parte ainda opera com máquinas de tecnologia bastante defasada. “Esta seria uma forma de melhorar a competitividade da indústria brasileira”, afirma.

Para Visetti, da Trumpf, o Brasil tem um grande desafio pela frente: tomar as medidas necessárias para manter os juros baixos e a inflação sob controle. “Se isto acontecer, devemos ter um segundo semestre de 2021 já muito próximo ao nível pré-pandemia e os grandes drivers serão, sem dúvida, o agronegócio e as exportações”.

Em contrapartida, a indústria brasileira precisa se modernizar e adotar o caminho da digitalização. “As grandes empresas já têm planos modernização digital nas suas plantas e estão no caminho, enquanto as pequenas precisam de informação, conscientização e recursos para dar este passo. Este tema de extrema importância está sendo deixado de lado. Com isso, a competitividade cairá ano a ano”, analisa. “A exemplo de vários países, esta modernização deveria ser incentivada e fomentada. Para tanto, é fundamental que o governo reduza a carga tributária sobre o investimento e assegure fontes competitivas de financiamento”.

Manzano afirma que o ano de 2020 – para a divisão de máquinas para geração de engrenagem e sistemas de automação da Liebherr – já se mostra muito positivo, pois este mercado vinha desaquecido nos últimos anos. “Tivemos em 2020 alguns projetos pontuais e de grande porte de alguns clientes, que trabalham com projetos de longa maturação, de 18 a 24 meses, de empresas que precisam se preparar para o futuro”.

Em sua opinião, para agilizar a retomada seria importante que o governo avaliasse algum incentivo para o setor automotivo, como a redução do ICMS feita no passado, “o que contribuiria para o desenvolvimento deste setor, com reflexos na geração de empregos, além da própria compensação que seria obtida com a maior arrecadação de outros impostos”.

Duarte Alves, da Okuma, avalia que o setor só voltará aos níveis pré-pandemia no final do primeiro semestre de 2021 ou no começo do segundo, “dependendo ainda de se vamos ter ou não uma vacina”. Este processo, porém, poderia ser agilizado caso o governo investisse numa agenda positiva de reformas (administrativa, tributária etc.), além da realização de privatizações, venda de ativos e investimentos em infraestrutura.

Para Bortolucci, da Toyoda, não é possível ainda fazer-se prognósticos sobre quando os negócios retornarão aos níveis pré-pandemia. “Se nossa visão sobre o aumento da produção nacional se confirmar, já no ano de 2021 veremos grande progresso”, pondera. Em sua opinião, o governo poderia contribuir para acelerar a retomada do setor, oferecendo incentivos à indústria de transformação, além da reforma tributária. “Gostaria também que olhasse com carinho a questão de tributos sobre máquinas-ferramenta, pois não há cabimento a incidência de impostos em investimentos. Isto nos torna atrasados tecnologicamente e sem nenhuma competitividade perante a maioria dos países. Em contrapartida, deixamos de gerar milhares de empregos”.

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