Fim do bloco impactaria 2,4 milhões de empregos, afirma CNI

O Mercosul é o maior destino das exportações brasileiras de manufaturados e produtos de alta e média intensidade tecnológica

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São Paulo

Estudo da CNI (Confederação Nacional da Indústria) mostra que 2,4 milhões de empregos e R$ 52 bilhões em massa salarial, em alguns dos estados onde a votação do presidente Jair Bolsonaro foi mais expressiva, estarão em jogo com o eventual fim do Mercosul ou a flexibilização da TEC (tarifa externa comum) em vigor no bloco.

O Mercosul é o maior destino das exportações brasileiras de manufaturados (20,4%) e produtos de alta e média intensidade tecnológica (25,6%) —e essas vendas são as que mais geram empregos, pagando salários maiores.

O presidente Jair Bolsonaro com os demais chefes de Estado e de governo do Mercosul
O presidente Jair Bolsonaro com os demais chefes de Estado e de governo do Mercosul - Alan Santos/PR

O Brasil exportou R$ 77,8 bilhões para o Mercosul em 2018. Essas vendas geraram 2,4 milhões de vagas de emprego —cada R$ 1 bilhão exportado gerou 31.116 empregos. E originaram R$ 52 bilhões em massa salarial —cada R$ 1 bilhão exportado gerou R$ 668,3 milhões.

 

As exportações para a China, por exemplo, são na maioria de commodities e, por isso, geram quantidade menor de empregos —27.444— e massa salarial —R$ 454,8 milhões.

Em massa salarial, as exportações para o Mercosul só perdem das vendas para os EUA. Já na geração de empregos, o Mercosul fica em quarto lugar, atrás de Japão, EUA e União Europeia, e à frente da China.

Para a pesquisa, a CNI usou dados de exportações da Funcex e da matriz de insumo-produto do IBGE. No Mercosul, todos os países respeitam a TEC, ou seja, cobram as mesmas tarifas de importação 
de cada um dos países extra-bloco, fora exceções, além de terem tarifa zero para exportações entre países-membros, fora exceções.

Com a flexibilização, os países estariam livres para fixar suas tarifas para nações de fora do bloco —e haveria erosão da preferência tarifária.

A CNI não calculou em quanto essas vendas seriam afetadas —isso dependeria de quais tarifas os países do bloco cobrariam de outras nações, para calcular quanto haveria de desvio de comércio, ou seja, quanto esses países deixariam de comprar do Brasil e iriam adquirir de outros locais.

Para a CNI, há mais um fator a ser considerado: os outros países, por serem menores e de economia menos complexa, reduziriam tarifas mais rapidamente para terceiros países —prejudicando as vendas brasileiras— com exceção da Argentina, historicamente mais protecionista. 

“O Mercosul é muito importante para o Brasil e para a indústria. Não podemos perder a preferência tarifária que temos no bloco”, diz diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria, Carlos Abijaodi.

Reportagem da Folha mostrou que Brasil cogita sair do Mercosul caso a Argentina rejeite abertura que o ministro da Economia, Paulo Guedes, planeja fazer. O Uruguai e o Paraguai já concordaram com redução de alíquotas de importação em 80% nos mais de 10 mil itens negociados.

Representantes de Brasil, Uruguai e Paraguai acreditam que a Argentina travará o acordo caso a chapa de Alberto Fernández e da ex-presidente Cristina Kirchner vença as eleições presidenciais. A redução precisa do aval dos quatro países-membros.

Segundo a CNI, o impacto seria mais sentido em alguns dos estados onde a votação no presidente Jair Bolsonaro foi maior no primeiro turno.

Isso porque entre os dez estados brasileiros que mais exportaram para o Mercosul, oito votaram no Bolsonaro acima da média nacional no primeiro turno, de 46,3%.

No Rio, onde a votação em Bolsonaro no primeiro turno foi de 59,79%, seriam afetados 183 mil empregos e R$ 4,4 bilhões em massa salarial. Em SP, que teve 53% dos votos para Bolsonaro no primeiro turno, estariam em jogo 921 mil empregos e R$ 20,6 bilhões em massa salarial. Em Santa Catarina, onde houve 65,82% de votação em Bolsonaro, o que impactaria 142 mil vagas e R$ 2,7 bilhões em massa salarial.

O presidente Bolsonaro, em viagem ao Japão, aventou a possibilidade de a Argentina ser suspensa do bloco caso a oposição vença a eleição presidencial no país e se oponha à abertura pregada pelo Brasil.

Mas, segundo a CNI, isso teria efeito negativo. “Seria prejudicial para a indústria deixar o Mercosul ou perder a Argentina como parceiro estratégico. Ela é o segundo mercado para os bens manufaturados do Brasil. É importante manter a integração  com os nossos vizinhos”, diz Abi Jaodi. 

Entidades setoriais já se manifestaram contra a proposta de abertura do Mercosul em estudo no governo. Os setores de ônibus e de calçados dizem que as reduções da TEC resultarão em invasão chinesa.

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