Anfavea admite que 2020 será ano de queda, mas evita refazer previsões

Moraes apresenta na internet o balanço da Anfavea: resultados ruins com tendência de piorar

Por PEDRO KUTNEY, AB
  • 06/04/2020 - 16:20
  • | Atualizado há 2 anos, 9 meses
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    Após verificar o mergulho no precipício da média de vendas diárias de veículos, que caiu de quase 11 mil na no início de março para apenas 1,4 mil na última semana do mês, em retração exponencial de 86,5% (veja gráfico abaixo), a Anfavea, associação dos fabricantes, já admite que o resultado de 2020 está comprometido pela pandemia de coronavírus, que determinou medidas de isolamento social, com suspensão temporária das atividades de fábricas e concessionárias. Portanto, será um ano de queda irremediável, mas a entidade evitou refazer as projeções que foram apresentadas em janeiro último com expectativa de crescimento.




    “Não pretendemos no momento refazer qualquer reavaliação das projeções. Estamos em meio a uma crise muito profunda que afeta consumo, mercado financeiro e investimentos. Ficou muito difícil prever o real tamanho da retração. Não temos segurança para refazer as estimativas para 2020”, justificou Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea.



    Ao divulgar na segunda-feira, 6, os números de desempenho do setor no primeiro trimestre em apresentação por vídeo, Moraes reconheceu que o ano já foi comprometido: “Temos noção que o segundo trimestre vai ser muito ruim para a economia como um todo, não só para o nosso setor. Esperamos ver o início de alguma recuperação no terceiro trimestre, que pode ser consolidada no quarto trimestre”, avalia.

    COMPARAÇÃO COM OUTROS PAÍSES CONFIRMA QUEDA EXPRESSIVA



    Moraes aponta que o único balizamento possível no momento é o de outros países que foram afetados pela pandemia e quarentena antes do Brasil. A Anfavea preparou uma tabela com esses resultados, nada animadores. Na China, que registrou o pico da Covid-19 em fevereiro, as vendas de veículos caíram 80% na comparação com o mesmo mês de 2019. Na Europa o auge das contaminações ocorreu em março, quando as vendas retrocederam 85% na Itália, 72% na França e 69% na Espanha (sempre comparando com igual mês do ano passado).

    De certa forma, o tombo de quase 90% do mercado brasileiro entre a primeira e última semana de março está “em linha” com a retração esperada adiante, já que a paralisação de fábricas e concessionárias deve continuar em abril inteiro. “O que enfrentamos em março e vamos enfrentar em abril está na mesma dimensão que outros países afetados pela Covid-19 já passaram”, compara Moraes.



    Para comprovar a tese de que a alta volatilidade do momento impede qualquer projeção acurada, a Anfavea compilou as várias expectativas para o desempenho do PIB brasileiro este ano já apontadas por governo, economistas, mercado financeiro, agências de risco, empresas, consultorias. Entre 19 projeções que vão de crescimento de 1% à contração de 5%, a média é de queda de 2,3% da atividade econômica em 2020. “Isso confirma que tudo está mudando muito rápido e o acerto da nossa decisão de esperar mais um pouco antes de reavaliar a dimensão do impacto dessa crise no setor automotivo”, afirma Moraes. “No momento não fizemos nenhuma projeção”, garante.

    Até um mês atrás, a única preocupação do demonstrada pela Anfavea com a pandemia de coronavírus era uma possível falta de peças importadas para a produção de veículos. Moraes garante que “ninguém imaginava que a crise de saúde chegaria com tamanha intensidade ao Brasil, se alguém tinha essa previsão, não contou”.

    O presidente da Anfavea lamenta que a pandemia interrompeu o ciclo de crescimento esperado do mercado brasileiro: “As vendas acumuladas de janeiro até 18 de março registravam crescimento de 9% (sobre o mesmo período de 2019), exatamente em linha com o que estávamos esperando para o ano todo. Mas com o tombo das duas últimas semanas do mês, o desempenho foi invertido para queda de 8,1% (558,1 mil veículos foram emplacados no primeiro trimestre, contra 607,6 mil nos mesmos três meses de 2019)”, destaca Moraes.



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